terça-feira, janeiro 11, 2005

à procura da poesia

Contar um conto que me entrou para as unhas ou se entranhou na alma ou está a estranhar o corpo e tem a história duma ideia para um poetrix, concebido como modelo aprendido e praticado. Tudo isto estava eu pensando olhando para o mar, bebendo um coco, deixando as ondas chegar até aos pés, rodear a cadeira enterrada na areia e virar caipirinha fresca, servida agora mesmo duma boca amiga fazendo gracinha, e, peguei na primeira palavra para o meu poetrix: servida...
Depois de começar a maior parte das coisas que vêm com emoção não podem parar, senão acabam sem chegar ao fim. Vou tentar apanhar a onda da ideia, mas é o corpo da amiga que encontra a “veia” que dizem ser necessária ao poeta, artista, criador, poetrixta incluído nesta lista...
Ser vida, sim foi por aí, a palavra a de-com-por-se para mim, servida! Sim, ela falou para mim, mas agora quero ouvi-la, mas entrou para dentro da memória... Deixei de olhar o mar e a amiga, para vir escrever um conto onde seja capaz dum canto, breve, um terceto formando quarteto... Mas, durando a actuação instrumental ainda em fase de afinação, temos: imaginação, memória e ilusão. Os outros instrumentos também são necessários, na intuição de ritmos aqui trabalhados por estes, sem esquecer nenhum outro.
Vim até casa, sento-me ao piano e teclo, as teclas do PC respondem dando letras e sinais, pontuando no écran a imagem viva duma música cursiva “à procura da poesia”. A memória afina sempre pela atenção, um diapasão precioso. Está no entanto na altura de limpar o registo, criar uma branca e preparar-me para saltar um hiato.
...“e ser [sangue e] vida em mim...”, Florbela Espanca

flor_bela

Espanca disse
a poesia a “ser...
vida em mim”!

Fica um vazio tão nítido, como sentir a morte: sentir que nada mais se sente, o momento esgota-se. Os dedos equilibram as unhas, as mãos equilibram os dedos, o equilíbrio prestes a desequilibrar-se. Está feito um poetrix? A certeza, incerta insere-se na conclusão como uma concussão, uma pancada a deixar um hematoma: toma! Confuso e contuso, vou procurar a amiga..., conduzo o conto daqui para fora.