sexta-feira, dezembro 31, 2004

estudo

À noite sozinho na cama, dá um óptimo verso, melhor que: à noite acompanhado na cama. O ponto, a afinação, está nas palavras que diferem: sozinho, acompanhado; a primeira é mais coesa, na sua sonoridade.
À noite sozinho na cama
tendo a saudade por companhia
arrebato-me de amor e fantasia!
Como havemos de saber o que pensaria um poeta numa situação destas se não formos o poeta, cuja realidade teremos de imaginar, como é evidente? Esta será a razão suficiente para sentir o isolamento, a necessária será o estar só? Preencher a solidão com a saudade, esta será a condição a ter em função duma falta cuja ausência, sendo física, é uma presença idealizada.
Costuma ser deste modo a interpretação literária dos textos, esta é a da realidade para um texto. Em vez de ser uma desmontagem, é uma construção. Uma montagem, fazendo a desconstrução mental dum quadro reproduzido em teoria. Muito parecido com a actividade dos pintores, criando a figura das personagens, com a finalidade das integrar numa composição.
O poeta acaricia a coxa roliça
tecida de fina pele mestiça
cuja vida já o sono reclama
Juntando os dois tercetos, está feito um sexteto. A mais perfeita marca é gerar uma presença, a mestiça da coxa roliça, é cobiça. Cobiço a sua presença, é ela a ausência.
Poesia mestiça, na realidade, o desenho da tua presença é molde, é modelo. Se não fosses modelar, ficavas pelos cabelos! Como não te interessas, não interessa. Com-versa.