quarta-feira, janeiro 12, 2005

razão possível

Vou partir, parti. A intenção precede-me, sigo-a. Ela já não está aqui, já é, já foi. Eu fiquei um pouco para trás, para escrever para ti “as razões possíveis”. Não existem, só razões impossíveis aceitei, esta é uma delas: explicar-me.
Não sou eu que te deixo, foste tu que me deixaste e deixas-te..., ficas. O que havia entre nós estava reduzido a palavras, agora aumenta. Pois escrevo-te como quem faz um exercício, um longo exercício para quem ainda está aqui quase no princípio.
Apetecia-me falar-te de princípios e fins, seria imprescindível para dar uma dimensão ética ao caso. Quem sabe? Talvez lá chegue, mas não é o meu ponto de partida, nem de chegada. O talvez é inerente a uma hipótese, não mais provável que um talvez.
Escrevo para, da nossa companhia, deixar um despedida. Isto seria o meu desejo, fazer uma despedida. Dá para motivo, embora não tenha aqui princípio e o deixe sem fim, infinito. Gostaria de ficar, deixar estas palavras, em tua companhia.
Nunca as tuas palavras foram menos que uma boa presença, das minhas junto a ti não tenho más recordações. Certo, sou distraído, pode a distracção trair alguma memória que aches deveria ter e não tenho. Tanto quanto me lembro...
Tanto quanto me lembro, quero saibas como calma e repousante é esta conversa. Ontem não a acabei, aqui a recomeço. Espero assim a consigas sentir, à leitura, como uma conversa com estas palavras deixadas passadas no teclado.
Dito deste modo poderia dar a impressão errada de estar a transcrever, a passar... Estou a passar por elas, enquanto as tenho passando as mãos pelo teclado. Com algum automatismo, até já me consigo abstrair e observar escrevendo.
Tu reparas em tudo, reparas em tudo que reparas, reparas em muita coisa, tudo em que reparas são todas as coisas, todas as coisas em que reparas. Eu sempre reparei nisso, repararmos é irreparável, nem conseguimos parar. Não pares...
Gostaria de ficar, deixar estas palavras, em tua companhia. Se releres, escrevi isto. Reli e acho devo escrever sobre isto, não quer dizer nada. Tudo o que estive entre_tido a escrever foi para ti, é para ti, não me sinto tido nem achado.
Deixei-te como quem abandona o berço que me viu crescer à nascença, seguindo uma ideia de Pessoa, fosse ela qual fosse: aprendizagem directa! Traço da linha recta as curvas de tempo no debruar do espaço, circundando o interior!
Contigo sempre me escrevi em versos, deixo agora parágrafos como versos. Como te disse este exercício não passa disso, não corresponde a uma verdadeira necessidade. Venho despedir-me porque me vou embora, embora apenas vá... embora.
Nunca te direi adeus, deusa! Quando te esquecer, o que em mim eras tu, ainda serei eu, mesmo se isso é impensável. Permite este pensar retirar às palavras toda a poesia, tornar um tornear de ideias este dizer, sabê-lo como o sei: inútil.
Fazer uma despedida sem resposta, seria o meu objectivo vazio como um vazo vazio. Se não quero que me respondas é porque me é indiferente o que possas dizer, o que será sempre falso. A falsidade é uma idade que não tenho, nunca tive.
Nunca se diz adeus a uma musa, uso, abuso, usa, abusa... É empírica toda a teoria, sempre soube de ti tanto como sei de mim, sei tudo... Acabo por escrever para todos os outros, aqueles a quem pudesse dar este texto a ler, este exercício.
Gostaria de levar a sério esta ideia, escrever para os outros escrevendo para ti! Acontecem coisas estranhas a quem é capaz de entranhar a estranheza, a quem dela se desentranha fazendo poesia, essa coisa estranha... tudo isto: sit(i)o do tu...
Se não és tu a Indizível que se tornou invisível, é visível que o invisível é - a única coisa verdadeiramente visível - da estranheza, onde estranha se cruza com beleza! Obtendo, por aglutinação, toda a palavra que (a.) compõe a estranheza.
Está a acabar a página, adeus beleza! Adeus deusa! Adeus deus - duma dualidade - da nossa realidade: tu e eu! Teu.
Razão possível, ver http://poemas-nus.blogspot.com/2005/01/razo.html.
Verhttp://desafioescrever.blogspot.com/2004/12/exerccio-9-carta-de-despedida.html