sexta-feira, fevereiro 19, 2010

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coisas

Ter um caderno para escrever apontamentos como este, feito como quem olha a imagem num espelho. Procuro olhar nos olhos... não os olhos, mas o olhar. Fica pois esta aproximação do corpo como portador dum espírito? Evoco o génio da lâmpada habitante da carga da esferográfica, esfregando a esfera, fazendo-a rolar. Perante os gestos sigo um rasto da dança, sou criança que se diverte a pensar que pensar a pode fazer voar, só tenho de (a)prender a linha do papagaio de papel (a pipa brasileira) da mão que escreve.
Deixo a descrição sem saber para o que ela serve, mas querendo fazer deste olhar a pintura onde o pintor deixa a imaginação dos objectos nas suas imagens. São pois as frases, as palavras, sinais e coisas ideais, capazes de dizer a vós a voz com que me sinto acompanhado a sentir, a dizer: coisas.
Coisas, encontro este texto manuscrito no interior dum cartão grosso e pardo dum cartuxo de mercearia antigo, do tempo dos meus avós. Tem uma data, escrita com outra letra, minha Avó guardando "coisas" do Avô? Não é, a data ainda a escreverei − eu, reescrevendo a história, talvez deixando-a... Assim, sem data.