quinta-feira, fevereiro 17, 2005

blog g2

Já leu blog g1? Continuação...

Trabalho numa loja e todos os dias vejo entrar um rapaz de quem gosto, já explico. Para o efeito tenho de sair do "blog g" para dar um giro na na(rra)tiva, ver se isto anda para a frente.
Gosto do rapaz, porque gosto de tudo nele. Menos pelo motivo pelo qual o vejo, entra para comprar tabaco. Mas quem me impressiona mais é um homem, é assim... alto e escreve.
Todos os dias me trás um postal: uma fotografia impressa numa folha, por baixo imprime um curto texto.
- Curto!
Diz ele que sou eu que escrevo aquelas histórias...
Cor_relacionar as histórias duma história é a arte dos narra_dores, esta alegria! Visuali_zemos o blog g, con_ti_nu_and_o-o
Ó p´ra mim a postos, a fazer um "post"! Posto isto...
varrido
Hoje tive um pesadelo e acordei a tremer, temendo cair da trave a baixo. Tinham-me nascido asas nas costas, no peito, nas pernas, dos braços gelava friorento e falho, como pássaro aleijado. Abri os braços desejando voar, estilhacei o silêncio da noite gritando palavras obscenas, inventadas por um anti-cristo louco, varrido, desvairado, sem nexo, de sexo inchado. Tinha um abcesso num dente, a cara deformada.
As penas imaginei-as brancas como as duma coruja albina de olhos vermelhos, brancas como as dos anjos arcanjos voadores incendiados de olhos deslumbrados, deslumbrantes! O abcesso, um excesso...
luar e sombras
Ouvi uma voz vinda da cela da jovem e percebi que orava, elevando as palavras para ser ouvida pela Lua Cheia enchendo a noite de luar e sombras estáticas dos objectos hirtos. Da arquitectura de escadas, paredes, janelas, pilares, muros, vasos vazios e quebrados, um sino… na torre da igreja onde moro com a coruja que se alimenta de ratos apanhados a estas horas da noite, onde as garras ferem e o bico dela entra a carne, depois de rasgar a pele esgarçando o corpo, ainda vivo, até estar morto e comido.
Quase caio abaixo do poleiro “encurojando” a história e tentando voar guiada pelo instinto, a necessitar duns copos de tinto. Penso eu, guiada pelo instinto... As saias arrancadas pelo chão... gótica!
caótica
A jovem é usada, violada, maltratada, tudo e nada. Na maior parte do dia delira, canta, ri e chora. Tenho-a ouvido repetir a sua história vezes sem conta, sempre de maneira diferente, até chegar à exaustão dum sentido ou da sua possibilidade. Explorando até aos confins do razoável a imaginação, enveredando por uma ficção caótica onde descreve medos como se fossem seres vivos ou outras pessoas.
Não quero pensar o que pensa o autor, prefiro que ele me use. O autor é sempre a parte mais real dum texto, a mais irreal, aquela que atrai “o raio que o parta”! Isto porque me sinto um pára-raios...
empenho
O isolamento faz o ruído de unhas tentando escrever na ardósia dum quadro negro o som dum giz riscando a branco a invisibilidade impalpável das sensações gastas pelas unhas gastas que são um giz gasto, a chiar na lousa ideias, cujo pensar não ouso acompanhar. Acompanho, movido pela vertigem, o desempenho musical deste empenho destrutivo do isolamento. Tentando fazer ao silêncio, o mesmo que a coruja ao rato.
Por hoje já tenho a minha dose!