sexta-feira, dezembro 31, 2004

dia 3

bom sonhar

Lê este poema e me diz se estou errado, a poesia é um Teatro! Te amo, aqui e de quatro! Viu ou “vice”!?…
http://poemas-nus.blogspot.com/2004/12/bom-sonhar.html

estudo

À noite sozinho na cama, dá um óptimo verso, melhor que: à noite acompanhado na cama. O ponto, a afinação, está nas palavras que diferem: sozinho, acompanhado; a primeira é mais coesa, na sua sonoridade.
À noite sozinho na cama
tendo a saudade por companhia
arrebato-me de amor e fantasia!
Como havemos de saber o que pensaria um poeta numa situação destas se não formos o poeta, cuja realidade teremos de imaginar, como é evidente? Esta será a razão suficiente para sentir o isolamento, a necessária será o estar só? Preencher a solidão com a saudade, esta será a condição a ter em função duma falta cuja ausência, sendo física, é uma presença idealizada.
Costuma ser deste modo a interpretação literária dos textos, esta é a da realidade para um texto. Em vez de ser uma desmontagem, é uma construção. Uma montagem, fazendo a desconstrução mental dum quadro reproduzido em teoria. Muito parecido com a actividade dos pintores, criando a figura das personagens, com a finalidade das integrar numa composição.
O poeta acaricia a coxa roliça
tecida de fina pele mestiça
cuja vida já o sono reclama
Juntando os dois tercetos, está feito um sexteto. A mais perfeita marca é gerar uma presença, a mestiça da coxa roliça, é cobiça. Cobiço a sua presença, é ela a ausência.
Poesia mestiça, na realidade, o desenho da tua presença é molde, é modelo. Se não fosses modelar, ficavas pelos cabelos! Como não te interessas, não interessa. Com-versa.

quinta-feira, dezembro 30, 2004

dia 2

sim,

Pode querer, tudo o que eu pedi vc deu, amei! Agora tua foto, eu tinha que ver de frente!... Sabe, vc está de cabelo mais comprido, como saber que és tu? Mas linda, linda a foto e o fa(c)to… “língua portuguesa é muito traiçoeira”. Você, vestindo a sua pele fica a matar! Adorei e até faço de rei mago, haja uma estrelinha! Eu vou agradecer também o teu poema, de… Ainda bem fui escrevendo uns versos http://poemas-nus.blogspot.com/2004/12/a-e.html, porque fiquei sem palavras. O que eu digo de tua foto, digo de ti! E deixa dizer, se na foto não fosse vc e acredito seja… embora seja uma fotografia de arte, fotografo profissional? Tem de me contar tudo, até o que fez com o fotógrafo ou o que o fotografo fez para ter uma modelo assim.
Quase me tirou o folgo; sabe o que é tesão? É desejo indisfarçado, o corpo eriçado, um sei lá voluptuoso! As pontas de seus seios duras… o que eu não pude ver em você, mas te saberia descrever em mim, mas literatura… também tem tem-peratura e estou pondo água na fervura! Beijo, para ser desejo, simples(mente)…

crescer

Há heterónimos sem nome, outros que outram a palavra sem procurarem uma nova personalidade: ser Assim não é para todos!... rs

Personalidade literária
flutuando no espaço
a leveza da cambraia
vestindo o que faço?

Piu!
Vejam como uma (v)oz se intercala nas quadras, novas quadras fazendo, alargando o poema… fazendo (o) crescer!
http://poemas-nus.blogspot.com/2004/12/provo-com-ao.html

um contemporâneo

Traduzindo e versando prosa em verso, fiz um sublinhado para nomear... Passo do original à tradução, sem a dar por livre (qualquer erro, é público e será reparado)... Publicado em: http://www.imaginando.com/literatura/archivos/000038.html

BREVES APONTAMENTOS
PARA UMA POÉTICA
Carlos Barbarito (Buenos Aires, Argentina, 1955)

Complexo, raro ofício este
de trabalhar com as palavras.
Trabalho pessoal, solitário,
empreendido como uma aventura.
Labor que acarreta fadigas,
porque se irmana com a vigília.
Alguma vez terei dito,
ser poeta é ouvir vozes:
não estamos longe
da actividade do médium
nem de certas formas de loucura.
Oiço vozes, minhas vozes interiores,
e só a elas sou fiel
− fidelidade que, como toda
que tal precisa de ser,
não descarta a traição, inclusive,
sente prazer ante a ideia −.
Dito de outro modo:
a meio do poema, de súbito,
uma súbita derivação, um caminho
imprevisto, com frequência oposto
− isto fascina-me −.

Um poema, todo o poema,
é obra humana e, como toda a obra
feita pelo homem, é complexa.
Gil de Biedma sustenta, com razão,
que complexo é sinónimo de impuro.
E impuro significa − segundo o
dicionário −, mesclado com partículas
grosseiras ou estranhas a um corpo
ou matéria. Esta impureza é inseparável
da ideia de poesia, sem ela a poesia
seria como um Manet todo água
sem nenúfares, com a perca que isso
significa. O abraço dos amantes,
a poesia beba suores, gemidos, ligeiras
marcas de unhas na pele; doutro modo
a cena estaria separada da vida,
aconteceria estranha ao humano.
Não seria poesia, seria outra coisa,
pretenciosamente pura, etérea,
angelical, inumana.

Escrever um poema é um acto perigoso.
Empurra-nos tanto até ao centro
do mundo, até à medula de nós mesmos
e de vós, converte-nos em estrangeiros.
Isola-nos, exila, faz-nos estranhos.
O idioma que usa o poeta não é de todos
os dias, quotidiano; é, como bem disse
um contemporâneo, um dialecto.
Por mais que fale com palavras
do dicionário ou aparentemente comuns,
o que delas faz o poeta, é sua alquimia,
nas sucessivas destilações, em busca
de outros planos, doutras significações,
situa-as em outra parte, as aparenta
com a magia, as enche de poderes,
as converte em sistemas de espelhos,
em intrincados jardins. A poesia depara
descobrimentos mas, também, trás saudades.

quarta-feira, dezembro 29, 2004

dia1

aponte_a_men_to…

http://poemas-nus.blogspot.com/2004/12/conhecer-o-devir.html
Quando terminei este poema escrevi e ficou − o escrito − como uma linha, semelhante aos versos anteriormente escritos, como uma nova e última estância:
Assim seja, Assim não seja!!
Ler, lermo-nos, lermos como se o escrito fosse um “escrito”, um sinal… Às vezes habitar os espaços, o lugar das palavras, dá-nos um sentido “exótico” da (nossa) realidade.
Lido, lidando com a frase como se fosse um verso, um verso/poema, uma mensagem… é uma vertigem, uma imagem, um centro, e a dispersão de qualquer lugar: sair do próprio nome!!

ex_post_o post

Re-posta a resposta:
http://poemas-nus.blogspot.com/2004/12/provo-cao.html

Este sou eu… falta aqui acrescentar a imagem… de preferência a cores e bela, cheia de vida… como nas tuas fotos… factos. Estou em Portugal (ainda este mês estive aí no Brasil), não costumo usar fatos: o conjunto calça e casaco, estou de casaco de couro e calça de ganga, estou de férias, não tenho neste computador nenhuma imagem minha.
A minha provocação “provo c’ ação”, uma coisa a ver se pega… se com a acção provoca: curiosidade, tesão, acção… e a acção chegou: vc. Você simbólica/simbolizada por você mesmo… VC
Ando à procura duma musa da tusa, alguém com quem possa dizer caralho!... E ficar à sombra das palavras esperando você chegar, para fazer amor… o que desejar. Escolho um carvalho, uma árvore frondosa, mágica e mística que as duas coisas se associam na visão primordial das coisas, na sua energia!
Eu sou assim… beijos… ASSIM
Mandarei a minha foto quando a tiver, entretanto visita meu carvalho, se enterra em mim, se entrega, se… vier na volta do correio imaginarei tirar teu email da pata dum pombo correio, um microfilme sofisticado… cheio de emoção e…
Sua segunda foto, vestida de branco está mais pequena, muito pequena para o meu gosto da ver de perto… contrasta no entanto com a primeira, gostei muito das duas. Não sei se tenho “lata” de pedir a vc mais fotos não mandando nenhuma… Bom, fui mostrando o carvalho, o paraíso… onde em imaginação a espero… te quero bem!
Manda também poemas... os mais ousados... onde além de nua, como os poetas se despem em emoção, vc se entrega... Quero ouvir vc gemer... me encher da tusa que só o poeta usa... para chegar à expressão. Deste modo, espero não te doa a distância, voando... você voa e eu voo e vimo-nos, nos vemos, nus de preferência. Aqui aceno com a alma, é uma cena de filme a preto e branco, eu de lenço branco nu... Beijos... percorrendo... a distância e já aí.
Assim

A melhor definição para literatura é fazê-la… aventura!

natal

http://poemas-nus.blogspot.com/2004/12/natal_28.html

A pensar no Natal escrevi…
e “ganhei” um blog, pronto, disse: Presente!

voz

Um coro Grego parece excessivo, mas ter uma voz, que não fosse interior, para comunicar com cada um? Um heterónimo moldando na língua essa voz ou, essa voz, moldando de nós… Então saberia ampliar, dar eco…
Beijo.

terça-feira, dezembro 28, 2004

explicação

É um projecto… É pró Jecto, o Jecto não fala português, nunca mais nos entendemos. Esta é uma explicação possível, outra é não dar nenhuma.
A outra explicação é melhor, esta é a possível.

mim

Mim, você é e será, agora e sempre! Minha razão de ser gente, minha agente no mundo, na vida… claro. Hoje estou numa de escrever postais publicamente, sabe como sou pudico. É me indiferente andar nu em frente a toda a gente, falar de amor é como fazê-lo, tê-lo, lê-lo…? Tenho dúvida e é certa, tenho a certeza, não poderás aqui ler o que te digo. Apenas o farás, sabendo que o não digo.

manuel

Manuel Dias, você é um cara especial, já não o vejo desde que o conheci. Resolvi mandar este postal, como não sei sua direcção, fica mesmo por aqui. Amizade, camaradagem, boa parceria é mesmo contigo. Ainda devemos ter o mesmo site que tivemos, pelo menos como memória. Nunca mais lá fui, nem vou. A minha curiosidade é curiosa, não tem curiosidade nenhuma!
Abraço.

francisco

Outro sou, outro que eu seja, outro é. Você como eu estamos bem na vida, vivemos com ela em “comunhão de bens” e “união de facto”. A minha vida é minha, a sua vida é sua, é justo que assim seja. Olha cara, você pode assinar também os meus poemas, aliás, a vida é nossa! Ela é ávida, bem aja por isso, haja Vida!
Abraço.

guloso

http://poemas-nus.blogspot.com/2004/12/natural-beleza.html

G(l)osei “A beleza natural/ dos seus versos”…

diário

Quando me inspirar a ler saber-ei!... dizer, assinalar, palavras que escrever. Ex_er_ci_tar, exercer o estar e o citar o ex-tenso tempo d_um prazer de ler, prazer de escrever, prazer de responder, prazer… sempre. Todo este prazer para procurar fazer uma coisa difícil que deve ser fácil, eu nunca consegui ter um diário.

segunda-feira, dezembro 27, 2004

posta restante

Escrever é tão simples que até chateia, esta coisa aprendida em que classe? Presta-se para dizer disparates e coisas acertadas, resta. Restará, envio para a “posta restante” (a que sobra) …
Se hoje ficasse farto disto, era um só cego… sossego! “Não vi e não comento, a minha sombra hoje é a responsável pelo expediente, não estou cá!”, pensaria em voz baixa e da maneira mais (in)consequente.

tempo inteiro

Escrever a tempo inteiro, sem ter lucro em dinheiro, nem gastar tinta ao tinteiro, entretido a rimar remando…
Gostava de escrever para ti quando não escrevo para ninguém, nem sequer para mim, espectador.
Passo e ando e nada digo, sem ser essa a leitura que consigo, apenas aquela que sigo, digo, nada digo.
Se calha parar para pensar, começo a sentir o que faz sentido…
Procurar significados, desisto, assisto.
Prosa Fenícia, seria um nome. Estou mais virado para lado nenhum, fica (a) “tempo inteiro”.

maca(m)búzio

Hoje, que me mandas o teu corpo em letras, encontras-me macambúzio a esta hora, búzio. Só te sei dizer o som do mar, é pouco (para te amar)… poço! Não posso…, poça!
Estou de maca…, morte macaca da inspiração! Não do te-… sou-ro que tu és para mim, feliz/mente.

leitor(es)

Não preciso imaginação, chegam os leitores, são “matéria prima” suficiente. Primo as teclas e salta um leitor, basta procurá-los! Escrever, é bom de ver…
Exactamente como em qualquer outra actividade, é mais fácil dizer. Fazer assemelha-se a uma a…, actividade, “e-vidente”. Este “e” electrónico, sincrónico “e-mediato”.
Ao terceiro parágrafo dou-me por feliz e seja como Deus Nosso Senhor quis, assim o queiramos. Eu prefiro os deuses, é essa a minha tradição, ser pantaísta. Matéria que dava para chegar ao Céu, vou ver o céu.

blig

Na volta, estou a falar duns 10”, surge um personagem dando uma visão nova do tempo num… blig! É um blog com i, “bligar” é que não soa não bem. Gostei de ver os textos surgirem sem data individualizada, sem espaço para comentários: um cenário limpo.

haikai

Inspirei-me lendo os seus haikais, cuja leitura esteve presente durante a minha escrita, deixando rasto da expressão, rosto ou feição, dos seus versos. O que me chamou a atenção e me fez deter, foi seu último verso. Curioso, são pequenos aspectos a dar asas a novos projectos. Onde li:
Plenos de encanto
Os sapos nas lagoas
Cantam pras chuvas.
detive-me no “pras” e fui às “compras” da minha própria experiência que, tendo Passado, passava no Presente nada presente. Eu teria escrito “pelas”, introduziria uma “especi-ficação” menos precisa, “não longe” da natureza expressiva do haikai. Onde leio: parece aparece o aparente rente ao dizer em aliterações de suspensas acções de quem sente estes breves poemas de plena poesia. Quanto ao pelo de "pelas", acaricio a ideia: "cantam pelas chuvas", cantam durante as chuvas, chamam as chuvas, aclamam... Tudo em aberto, como com "pras" afinal.
Não o exponho, nem me exponho a dar uma sugestão, falei com o coração! Cumprimentos (ao escrever-lhe, escrevi-o… “link”)

im-pro-viso

Escrevi “improvisações (em torno duma ideia)”, deu improvisos, exercício táctil da técnica, escrito em teclado. Aqui, ao teu lado…, em “rede”. Boa ideia…, como transcrever poesia em prosa? Como dizê-la… sem mostrá-la? Tentemos, deixemos os sinais sinalizar.
XXX// põe/ tri/ x! Aqui escrevi o título em maiúsculas, hoje mudei…
in_do_m/nada// pequeno poema,/ apenas o tamanho/ t_em (d)esta f(r)ase;
do nada…// indomada frase/ nómada, sal/ t_ando;
vago// uma ideia/ é como tudo/ na vida…;
gago// uuuma iiideiiiaaa// ééé commmoo tuuudo// naaa viiida…;
pago// uma ideia a pronto!/ sem letra nem sinal,/ ponto final.;
promoção// artigo de luxo,/ é vendido: pro-/ moção ao desbarato!;
fa_do// articulado, como o dizer/ dum fado, cantado de olhos/ fechados… e mão no coração!

Noz

Tu não sabes como os poetas são sensíveis? Será necessário perguntar: “Ficaste sem palavras?…”. A verdade é esta, é qualquer, qualquer coisa… é boa para nós! Sim, noz! Fruto seco…, grande engano! Voz! Fala, semente, se-mente… Acredito em ti, principalmente quando não escreves logo, não tenho nada.
Concordemos numa coisa, se não dermos corda… a cor de-sa-pa-re-ce. Parece? É certo! Por isso… todos os dias penso em ti! Quando me lembro…, às vezes várias vezes ao dia (para dar para algum dia que já nem lembro).
Vou… sair.

res-posta num salto

Respondes, acabas de responder, ou sou eu que estou a ler, acabas de escrever? Apanhas-me a fazer poesia, como cantaria canções ou tocaria música. Não fossem as palavras estes animais sensíveis que requerem a minha atenção, desatento se não tento, atento, tratar delas. Felinas, amigas e inusuais como só a imaginação as procura e caça: fazendo a cedilha ao ç, sei lá!... E interessa, se interessa!! Vamos encontrar-nos? Pensa nisso, enquanto continuo a ler-te − imaginação minha.
Estou morto por perder a imaginação!

condição necessária

Escrever tem por condição necessária ser alfabetizado, escrever o alfabeto e com ele todo o possível: o possível e o necessário… A dificuldade está em ter uma escrita, transformar a escrita num registo é como ler um rasto e dar rosto ao acto de escrever. Este texto é parte, parte de: frase imitando um cão a fazer um ninho Escrevo, quem ler poderá escrever as mesmas palavras. Palavras, com que escrevemos… Escrever tem por condição necessária ser alfabetizado, escrever o alfabeto e com ele todo o possível: o possível e o necessário… A dificuldade está em ter uma escrita, transformar a escrita num registo é como ler um rasto e dar rosto ao acto de escrever. Frase imitando um cão a fazer um ninho, nomeia a anterior que “descreve”. Descrever, cá está uma palavra óptima! Óptimo, escrever as palavras com esplendor: uma ideia dentro da ideia, uma imagem na imaginação, a fotografia dum filme!
http://vertoblogando.blogspot.com/2004/12/frase-imitando-um-co-fazer-um-ninho.html

domingo, dezembro 26, 2004

esta lógica minúscula

Ficava melhor aqui “evocação” e “coisas”, teria talvez até mais significado e seria mais sentido como sentido, mas deixo-me reger por uma lógica minúscula. Esta, quase igual a si mesma, se-me-lhan-te a nada, encantadora como só tu − na segunda pessoa do singular ou em qualquer outra. Dou o caso por arrumado, fica como uma questão de arrumação: uma violência, esta lógica minúscula…

emoções

Um pouco de emoção, ah!...
E até mataria o autor, ele ou eu,
com uma apoplexia, duas, três!...
Pus
me
a
pôr
em
versos…

(...)
os poetas
(...), esses briguentos seres desequilibrados,
que falsamente se intitulam apóstolos,
mas,
em dupla, roem a carne do terceiro.
Os poetas,
que cantam a pureza,
mas que passam ao largo
até das proximidades de um banho.
Os poetas
que esmolam de todos, até dos mendigos,
só uma pequena chamada, só um pouco de carinho,
só esmolam uma estatuazinha na esquina,
a esmola da imortalidade dos mortais,
esses cabeças-de-vento, invejosos,
pálidos masturbadores,
que venderiam sua alma por uma rima,
por uma indicação,
que expõem no mercado seus segredos mais íntimos,
que tiram vantagem até da morte de pais,
mães, filhos, e mais tarde, anos passados,
‘numa noite de inspiração’,
quebram suas tumbas, abrem seus caixões,
e com a lanterna de gatunos da vaidade
pesquisam ‘emoções’,
como ladrões de tumbas procuram dentes de ouro e jóias,
depois confessam e se arrependem,
esses necrófilos, esses feirantes.
Desculpem, mas eu os odeio.
Dezsö Kosztolányi, poeta e romancista húngaro ( 1885-1936)

Amo a prosa onde a poesia é uma realidade palpável, aquela que me dá a pausa onde vejo o verso, aquela que invento a par e passo…
Amo a prosa que me dás a ler, porque [(te)r, raios e coriscos…] amo. Por isso escrevo para ti e te invento, em prosa.
Amo a prosa quando ela desagua na Lua e se diz nua, despida, transida de evidência, como se posse capaz de ter [(te)r]... calor e frio.
Amo a prosa porque não converso nenhum verso capaz de se revelar, tudo é igual e diverso, move-se e confesso: aqui a fé que tenho é a que professo.
Amo a prosa com a paz da poesia, capaz da poesia: OM!

a minha vida

A minha vida?, uma aventura. Fui para a cozinha para preparar uma couve, abri o saco de plástico tirado do frio e estava cheia de caracóis. Começam a acordar, a correr, não faço mais nada: salto para cima duma cadeira pensando chamar a vizinha.
Estranhamente estava calmo, lembrei-me que ela não está. Finalmente, também me lembrei que sou o herói, as coisas compuseram-se. Vou ver o cozinhado que está a fazer.

comentário(s)

Fiz o seguinte comentário [hoje, no dia 27 de Novembro]:
«Posso fabricar o tempo, voltar ao passado, escrever o presente. Aos poucos, irei passando o que ficou», surgiu no meu email. Encontrei a explicação em inglês…
«The information you provide on this form will not be used for anything other than sending the email to your friend. This feature is not to be used for advertising or excessive self-promotion.»
Comentar(ei) os comentários.

a cena dum cenário, acena

Deves ter uns olhos lindos... que seja essa a causa e este o e-feito:

Devo dizer e essa é a verdade, só a verdade, toda a verdade: devo dizer que te quero ver! Não devo, é bom de ver, só devemos o que não temos pago e eu acabo de pagar o que devia. E fica assim? Está pago! Apago?...
Acabei de escrever um poema com um A., Anónimo. Tenho na sala um espelho de corpo inteiro num suporte estilizado, serve de tudo: escultura, biombo, espelho… Quando quero ser Anónimo, vou olhar as suas costas e, à altura dos olhos, passarei a ler:

BEBA BELA, BEBA… BELEZA!
Os mistérios da vida e do amor
estão servidos, prontos, ao dispor
Agitados, misturados, prontos a ser
servidos onde agora mesmo estás a ler
São apenas esta leveza quase insistente
onde se resume em síntese o existente
Versos que te falam da beleza do sentir
quando entregue ao sentido dança devir
Agora acaba a música e fica com a beleza
a sonhar com o sentido no que foi leveza
A.

Lembrar-me-ei sempre de ti!

A.

Tens capacidade de transmitir simpatia de forma irradiante (calor, luz, …) só com estes elementos onde a expressão surge (apreendida da compreensão e entendimento…) com o rasto dum rosto, vestígios… Desta residual presença da voz, do olhar, do paladar, olfacto e tacto, sinto que os sentidos se correspondem sentimento, isto é leitura e isto é isto que escrever é. Quando aqui nos encontramos estamos onde nos encontrámos, onde nos conhecemos. Conhecer-te sem precisar das palavras, mais que ampliar imagem (aprofundar, compor… à compositor) foi bom. Assim, desta forma simples e directa: poderia ter beijado sua/tua testa!...
Entre nós sempre deixaremos aquilo que criámos, a intuição de intuir intuição e partilhar o indizível do dizer, partilhar prazer dum saber com sabor que não é nada em especial: é isto, este especial sentir, a partilha.
Amiga, à amizade!

sábado, dezembro 25, 2004

biografia

QUINTANA, POR QUINTANA
(um texto autobiográfico do poeta gaúcho Mário Quintana - 1906-1994)

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906.
Creio que foi a principal coisa que me aconteceu.
E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo.
Bem, eu sempre achei que toda confissão
não transfigurada pela arte é indecente.
Minha vida está nos meus poemas,
meus poemas são eu mesmo,
nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.
Ah, mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas...
Aí vai! Estou com 78 anos, mas idades só há duas:
ou se está vivo ou morto.
Neste último caso é idade demais,
pois foi-nos prometida a eternidade.
Nasci do rigor do inverno, temperatura: 1 grau;
e ainda por cima prematuramente,
o que me deixava meio complexado,
pois achava que não estava pronto.
Até que um dia descobri que alguém
tão completo como Winston Churchill nascera prematuro
- o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton!
Excusez du peu...
Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim.
Dizem que sou modesto. Pelo contrário,
sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi
algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação,
um anseio de auto-superação.
Um poeta satisfeito não satisfaz.
Dizem que sou tímido. Nada disso,
sou é caladão, introspectivo.
Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos.
Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice,
a longuidão, é que eu adoro a síntese.
Outro elemento da poesia é a busca da forma
(não da fôrma), a dosagem das palavras.
Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido
prático de farmácia durante cinco anos.
Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade,
de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo
- que bem sabem (ou souberam)
o que é a luta amorosa com as palavras.

Este texto chegou-me por email,
sem configuração, desconfigurado.
Fui eliminando os muitos sinais >
(maior que...) e deixando ficar esta
“forma livre”.
Resolvi re-nascer no Natal,
para biografia serve-me a do Quintana,
donde saliento:
«a principal coisa que me aconteceu», nascer.

a fotografia no espelho

Tens capacidade de transmitir simpatia de forma irradiante (calor, luz, …) só com estes elementos onde a expressão surge (apreendida da compreensão e entendimento…) com o rasto dum rosto, vestígios… Desta residual presença da voz, do olhar, do paladar, olfacto e tacto, sinto que os sentidos se correspondem sentimento, isto é leitura e isto é isto que escrever é. Quando aqui nos encontramos estamos onde nos encontrámos, onde nos conhecemos.
A fotografia no espelho do teu rosto, composição em torno da posição contigua à tua presença.

frase imitando um cão a fazer um ninho

Escrevo, quem ler poderá escrever as mesmas palavras. Palavras, com que escrevemos… Escrever tem por condição necessária ser alfabetizado, escrever o alfabeto e com ele todo o possível: o possível e o necessário… A dificuldade está em ter uma escrita, transformar a escrita num registo é como ler um rasto e dar rosto ao acto de escrever.
Frase imitando um cão a fazer um ninho, nomeia a anterior que “descreve”.
Descrever, cá está uma palavra óptima! Óptimo, escrever as palavras com esplendor: uma ideia dentro da ideia, uma imagem na imaginação, a fotografia dum filme!

sexta-feira, dezembro 24, 2004

e-vocação

Se um heterónimo tem avô, é Pessoa.

coisas

Ter um caderno para escrever apontamentos como este, feito como quem olha a imagem num espelho. Procuro olhar nos olhos... não os olhos, mas o olhar. Fica pois esta aproximação do corpo como portador dum espírito? Evoco o génio da lâmpada habitante da carga da esferográfica, esfregando a esfera, fazendo-a rolar. Perante os gestos sigo um rasto da dança, sou criança que se diverte a pensar que pensar a pode fazer voar, só tenho de (a)prender a linha do papagaio de papel (a pipa brasileira) da mão que escreve.
Deixo a descrição sem saber para o que ela serve, mas querendo fazer deste olhar a pintura onde o pintor deixa a imaginação dos objectos nas suas imagens. São pois as frases, as palavras, sinais e coisas ideais, capazes de dizer a vós a voz com que me sinto acompanhado a sentir, a dizer: coisas.
Coisas, encontro este texto manuscrito no interior dum cartão grosso e pardo dum cartuxo de mercearia antigo, do tempo dos meus avós. Tem uma data, escrita com outra letra, minha Avó guardando "coisas" do Avô? Não é, a data ainda a escreverei − eu, reescrevendo a história, talvez deixando-a... Assim, sem data.